sexta-feira

Ensaio Poético: Mosaico


Sou um produto,
Produto de uma sociedade intolerante,
Intolerância que expulsa e renega seus filhos,
Filhos que não pediram para nascer,
Nasceram do amor e do ódio,
Ódio que se dissemina como praga,
Praga que destrói e mata,
Morte que chega vagarosamente,
Devagar ela vai corroendo seu valores humanos,
Valores humanos que a fome desconhece,
Desconhece porque comer, agora é o que ela precisa,
Precisamos de coisas que nunca vamos utilizar,
Utilizam nós para mostrar até onde vai a decadência humana,
Decadência que se mostra em cada esquina, cada beco, cada viaduto,
Viadutos que transformam-se em casas,
Casas sem mobília, mas que servem para serem habitadas,
Habitadas pelo bicho homem, por quem a realidade foi impiedosa,
Impiedosos seres, que desconhecem a piedade,
Piedade de um Deus que os abandona pelas mãos dos homens,
Homens que vivem no centro das atenções,
Atenção que muitos pedem para os últimos,
Último suspiro daquele que não conseguiu viver com dignidade,
Dignidade que poucos homens alcançam,
Alcançar o que está distante, apenas esticando o braço,
Braços que se movimentam de um lado para o outro,
De um lado para o outro ele vai, sem a certeza de para onde ir,
Onde ir se meu paradeiro é o incerto?
Incerto passado, incerto presente, incerto futuro,
Futuro que espalhou espinhos em meu caminho,
Caminhos que só me levam para onde não quero ir,
Quero ir correndo, mas o máximo que posso, é me arrastar,
Me arrastar por escadas que não foram feitas para mim,
Para mim a morte, para ele a sorte,
Sorte de continuar vivendo,
Viver não é para todo mundo, a maioria apenas sobrevive,
Sobreviver é algo de que entendo bem, o que eu não sei é viver,
Vivendo assim, não sei até quando acordarei de manhã,
De amanhã já acordo cansado, a insônia não deixou meu sono perdurar,
Perduram monumentos nos quais aves deixam cair suas fezes,
Fezes que se espalham como câncer,
Câncer que se alimenta de quem vai matar,
Matar é o que mais ele sabe fazer,
Fazer isso não é muito virtuoso,
Virtudes que nada valem, para aqueles que as desconhecem,
Desconhece a beleza de um olhar,
Olhar de um homem que hora morre,
Morre porque viver não lhe permitiram,
Permitir? E quem precisa de permissão para viver?
Viver com uma carga que não pode carregar,
Carregam navios que levam sonhos,
Sonhos que costumam naufragar num mar de rosas,
Rosas que enfeitam um ramalhete de aniversário,
Aniversário daquele que não gosta de festas,
Festa para aqueles que tornaram-se livres,
Livres num mundo escravizante,
Escravos que nunca tiveram escolhas,
Escolhas que perderam-se no tempo,
Tempo de pensar sobre a vida,
Vida que faz seu dono derramar lágrimas,
Lágrimas que regam a última planta do deserto,
Deserto que ferve o cérebro do viajante,
Viajante que anda por lugares nunca dantes encontrados,
Encontrar aquilo que tanto se procura,
Procurar é o que mais fazemos durante toda nossa existência,
Existência miserável, de um mísero homem,
Homem que se aquece no frio,
Frio que é expulso pelo fogo,
Fogo que queima a casa do casal,
Casal que prometeu amor eterno,
Eterno é o tempo que nunca passa,
Passo para você a responsabilidade,
Responsabilidade que poucos assumem,
Assumir deixará você em “maus lençóis”,
Lençóis que escondem o corpo da mulher amada,
A amada que num olhar seduz o amante,
Amante que desesperado mata quem o ama,
Amor que foi vencido pelo ciúme,
Ciúme que expulsa do paraíso a beleza,
Beleza que está dentro de cada um,
Cada um que não acredita, rejeita,
Rejeita o filho que mamou no seu peito,
Peito que seca e mata sua cria,
Cria que se cresce, cresce no submundo,
Submundo onde o esgoto é a única praia,
Praia onde os belos corpos desfilam,
Desfilam em passarelas com altas grifes,
Grifes que alimentam o status,
Status que não passa de uma casca que esconde o vazio,
Vazio ao qual o ser humano encontra-se preso,
Preso à cela que ele mesmo construiu,
Constróem-se mansões, destróem-se barracos,
Barracos que se amontoam como entulhos desprezados,
Desprezo que machuca mais que navalhas afiadas,
Afiando a faca, na qual a ave dará seu último pio,
Pio que estremece a criança que dorme inocente,
Inocentes são aqueles que nem sabem porque estão aqui,
Aqui onde o rio empresta suas águas,
Águas que enegrecem com o escuro do óleo,
Óleo que mata e destrói,
Destruir é um dos piores erros da humanidade,
Humanidade que caminha a passos largos,
Largos são os caminhos sem volta,
Volta que foi marcada na ida,
Ida para lugares em que bocas gritam,
Gritos de quem não pode ouvir,
Ouvir as súplicas de quem não sabe falar,
Falar para aqueles que querem a paz,
Paz que só chega depois da guerra,
Guerra que mata quem não queria morrer,
Morrem de formas inesperadas,
Inesperado! o filho chega de surpresa,
Surpresas que fazem rostos sorrirem,
Sorrisos que desabrocham como flores,
Flores que enfeitam a última morada,
Morada onde pássaros alimentam seus filhotes,
Filhotes que sonham em um dia voar,
Voar para lugares onde a vista não alcança,
Alcançar longas distâncias,
Distantes são os vales pelos quais precisamos passar,
Passar para o outro lado, é desejo de muitos,
Muitos chegam à pé, muitos à cavalo,
Cavaleiros que trazem esperança à desesperados,
Desesperados que entregam tudo a quem não sabe cuidar,
Cuidar para que nada aconteça não estava no script,
Script decorado à luz de velas,
Velas que iluminam o escuro labirinto,
Labirinto que não tem saída, que não tem fim...

Odair Comin

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