sexta-feira

MicroConto: Torvelinho

O que o esperava por trás daquela porta? O homem não tinha certeza, mas porque, derepente isso tornou-se uma dúvida, afinal era a sua casa. Tentou dar dois giros na chave, quando precisaria apenas de um para abrir. “De novo ela só girou uma vez”, pensou. O cheiro que sentiu não era comum. Não deu importância, talvez a empregada jogara um perfume novo no ar. Foi até o closet, retirou a armadura impregnada de um dia de trabalho estressante. O banho foi rápido, contudo, relaxante.

Foi quando sentou-se ao sofá, para ligar a TV, que viu sobre a mesa um arranjo de flores. Identificou por fim a fonte do perfume. Notou o pequeno cartão, sobressaltado roubou-o do arranjo. Nele algo se anunciava: “Melissa, você é a mulher mais maravilhosa que já conheci”. A ansiedade lhe fez refém, seu coração pareciam um punching ball sendo tamborilado por um boxeador. Sentou-se prestes a ter um colapso, sentiu-se uma névoa se desvanecendo. Uma intrigante constatação: haviam flores, nele um bilhete para sua esposa, e não fora ele a enviar. Nenhum pensamento para lhe salvar, todos fugiram apressados, vazio, silêncio. O homem permaneceu em stand by.

“Flores!” Foi o que exclamou Melissa quando entrou em casa. “É um presente para mim, amor?” “Você pode me explicar o que é isso?”
Melissa leu o bilhete e sorriu. “Obrigada”.
“Acontece meu amor, que não fui eu quem mandou”. Disse já num tom mais grave. “O que você tem a dizer sobre isso?”
“Sei lá, se não foi você, deve ter sido um admirador secreto”. Disse sem muita convicção.
“Como assim um admirador secreto”. Berrou o homem.
Melissa deu as costas, dirigindo-se até o closet. O homem seguiu-a esbravejando. Serena, ela começou a se despir, com gestos suaves não deu ouvidos. Já de langerie, ela colocou a mão sobre o peito do marido.
“Quando foi a última vez que me mandou flores, que me disse o quanto eu era bela?”
“Sei lá”.
“Pois é, fui eu mesma quem mandou as flores”.
Odair Comin

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