sexta-feira

Crônicas: Escrevo

Escrevo. Simplesmente escrevo. Escrevo porque em minha boca as palavras me faltam, são as mesmas que se amontoam em minha mente e só conseguem sair por meio de meus dedos. Quando em contato com um teclado, traduzem o emaranhado de meus pensamentos. Escrevo porque penso, pensando escrevo. Assim como respiro ar, respiro também letras, palavras e frases. Escrevo porque a vida é bela e com ela me encanto, por vezes me espanto, por outras me aqueço com seu manto. Escrevo porque vejo, sobejo, lampejos da natureza que inundam meus olhos. Olhos que orvalham ao amanhecer, que se cansam ao entardecer e se fecham ao anoitecer.

Escrevo porque meu coração não pode falar, porque dele brotam sentimentos. Que se não fossem as palavras, nunca saberia o que este órgão cardíaco quereria dizer. Escrevo o que dele emana, se deleita com o amor e a paixão. Ri-se de mim quando estou apaixonado. Chora comigo quando estou triste. Sorri comigo quando beijo. Escrevo porque meu coração não sabe falar, cantar ou dançar. Em meu texto ele fala, as rimas cantam, as palavras dançam, e quem sorri é ele, sou eu, é você. Escrevo porque meu coração não quer falar, prefere apenas bater, e com as batidas me faz viver.

Escrevo, porque um dia tem 24 horas e o que eu faria com tantas horas num mesmo dia? Tem aqueles que acham que é pouco. Eu, já acho suficiente. Suficiente para fazer tudo que se pode fazer em um mesmo dia. Um dia perfeito para escrever, ler, se entreter. As digitais insistentes, chocam-se com os tipos do teclado; espalhado, sentado, amarrado à idéia de que a vida deve ser traduzida em palavras, que se o coração não fala, deve ser interpretado de uma forma que se possa entender. Escrevo por que as horas passam lentas, e o ponteiro do relógio denuncia apenas os minutos, astutos, diminutos. Escrevo, porque há um segundo atrás, eu pensei em escrever isso para não mais esquecer.

Escrevo porque as palavras já se cansaram de sair de minha boca e não encontrar nenhum ouvido além dos meus. E se encontraram não foram ouvidas. Cansado, estafado, “enfadonhado”. Escrevo porque nem sempre as palavras são suficientes. Quando falo fecham os ouvidos, os olhos. Que me resta. Mesmo assim escrevo. Escrevo porque talvez alguém, algum dia, em algum lugar lerá o escrito. É essa fantasia que me move, comove, remove. Contenho as lágrimas, derramo letras, engulo a seco sentimentos que nem sei se são meus. Minha fala se cala, se embala, se iguala ao mudo que nunca teve o prazer de proferir uma palavra se quer; Mesmo que quisesse. Escrevo porque ouço minha mente a fervilhar.

Escrevo porque registrar, é uma boa forma de se lembrar. Porque existe o mar, a natureza, o céu, a mulher. Belezas aquáticas de paraísos submersos, submersos pela transparência salgada. Escrevo para tentar mostrar o que estava escondido nas aparências do real. Escrevo, transcrevo, subscrevo e entro no mundo obscuro da mente humana e suas vias, vielas e avenidas, com seus altos fluxos de informações e conexões. Escrevo porque o céu é azul, como azulada parece a cor do mar. Escrevo, porque o verde da natureza, me deixa a impressão de que ainda existe cor em um mundo cinza, contaminado, contagiado, abandonado. Escrevo de manhã, a tarde e ao anoitecer.

Odair Comin

Psicólogo e Escritor

Autor do Romance: Gaúcho Macho e Grosso

Um comentário:

Bruno Arita disse...

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um abraço
atenciosamente
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