domingo

Ensaio Poético: O Frio


O calor perde suas forças,
Forças que agora estão do lado do frio,
Frio que vagarosamente vem se infiltrando,
Infiltra-se na menor das frestas,
Frestas curiosamente abertas pelo sol,
Sol que agora está em “outro mundo”,
Mundo coberto pela fina névoa,
Névoa que tira a visão do viajante,
Viajante que no frio dorme um sono,
Sono que só chega depois do frio partir,
Partir para buscar o animal que ficou para trás,
Traz ao amigo uma boa notícia,
Notícia, de que por aqui vai nevar,
Neve que cobre o mundo de “paz”,
Paz branca, pomba branca, bandeira branca,
Branco de susto num olhar de espanto,
Espantar o frio com o velho cobertor,
Cobrir um filho, esquecer o outro,
Outra vez ela sentiu um frio na barriga,
Barriga d’água, congelada como geleiras,
Geleira úmida, molhada, gelada,
Gelado está aquele que gelado ficou,
Ficou até mais tarde e entrou numa fria,
Fria noite que escurece meus olhos,
Olhos tristes de uma pássaro sozinho,
Sozinho seu corpo parece congelar,
Congelada, a água perde sua flexibilidade,
Flexibilidade leve da neve que cai,
Cai como se dançasse um balet aéreo,
Aéreo, o garoto de descuida e cai,
Caiu mais uma vez a mesma questão,
Questão de vida e de morte,
Morte trazida pelo frio abaixo de zero,
Zero para a esquerda, zero para a direita,
Direito de comer o sorvete que está na geladeira,
Geladeira que forma o gelo,
Gelo seco, gelo molhado, gelo gelado,
Gelada a garganta inflama,
Inflama, inflamado, inflamável,
Inflamou e um comprimido tomou,
Tomou um banho frio,
Frio que fez seus poros se fecharem,
Feche a porta e deixe o frio lá fora,
Fora do ar por problemas técnicos,
Técnicos resolvem o seu problema,
Problemas sem solução ficam de lado,
Do lado de fora esta muito gelado,
Gelado os corpos lado a lado ficam,
Ficam literalmente quando entram,
Entrei numa fria, muitos dizem,
Dizem que a inveja é um prato que se come frio,
Frio e calculista aquele que assim pensa,
Pensar com a cabeça fria é mais saudável,
Saudável é sentir o frescor do ar no rosto,
Rosto gelado pela frente fria que chegou,
Chegou do sul trazida pelos ventos,
Vento que assobia e derruba a neve do galho,
Galho que produz seu último broto,
Broto que morre pela geada que nele se formou,
Formou-se uma espessa camada de gelo,
Gelo glacial vindo dos pólos,
Pólo sul, pólo norte, o frio que traz a morte,
Morte espalhada por todas as cidades,
Cidades que amanhecem envolvidas pela neblina,
Neblina que se forma quando abrimos o freezer,
Freezer que conserva gelado o alimento,
Alimentando-se com um queijo fresco,
Fresco é o ar que vem do deserto,
Deserto envolvido pelo vento minuano,
Vento minuano que deita o que estava em pé,
Em pé ele espera a friagem chegar,
Chega o inverno e com ele o frio,
Frio que congela o coração do amante,
Amantes que sozinhos ficam,
Ficam congelados para ficarem conservados,
Conservar comida congelada; ela perde o sabor,
Sabor de comer a melhor comida,
Comida fria? É porque você chegou tarde,
Tarde fria em que vi o invisível! na hora gelei,
Gelei e vi que estava descoberto,
Descoberto na noite fria,
Frio congelante que dá sono, hora de dormir...

Odair Comin

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