sexta-feira

Crônicas: A Caneta

Infinitas cores, infinitos modelos jazem, desfilam, enfeitam prateleiras, balcões e mesas. Multiformes, disformes, exóticas. As cores de fora escondendo as cores de dentro, tal como um rótulo esconde seu conteúdo. Disfarce, sedução, enganação. Embelezamos o feio para vendermos como bonito. Bonito por fora, feio por dentro, por vezes o inverso. No reverso bebemos todo o amargo que a vida pode nos proporcionar, achando que é o melhor dos doces. Talvez hoje sim, mas e amanhã? Nos enganamos, não percebemos, o mundo gira e nós ficamos totalmente tontos.

Escreves! Sim, escreves o que te mandam, não tens vida, não tens escolha. Já nascente da forma que é, nem maior nem menor, nem mais gorda, nem mais magra, nem mais bonita, nem mais feia. Nasceste pré-destinada a ser azul, preta, vermelha ou outra cor qualquer. Viestes assim, serás sempre assim, talvez recebas alguns enfeites, não passam de disfarces para esconder o real, teu conteúdo continua o mesmo. Por vezes se iguala ao homem que jogou nas mãos do destino sua história, nas mãos de Deus sua trajetória, nas mãos do outro a vitória. Quem és tu? Escreves por linhas tortas...

É certo que escreves, não sabes o que. Aceitas sem vacilos, sem retruques ou questionamentos o que te impõe. Punhos firmes te guiam. E tu? Te entregas a própria sorte, sorte se servires a punhos nobres e virtuosos. Tu que serves de instrumento à rebentos pensados por mentes ignorantes, perturbadas, cindidas ou lúcidas. Tu, mesmo que não leve a maior das honrarias, transcreve tratados, poesias, romances ou Filosofias. És moderna, contemporânea porque tomou o lugar da pena, talvez a duras penas se mantém. Tiraste o lugar de alguém, sem pena, logo outro alguém tirará teu lugar também.

Sabes tu amiga, que assim é a vida, tudo que nasce terá que um dia morrer, nada é insubstituível. O que te resta para o futuro é talvez virar um objeto raro nas mãos de um obcecado colecionador de passados, pois não se contenta com a idéia de que as coisas mudaram. Precisa da repetição, precisa do antigo, precisa de um terreno seguro para plantar seu presente e ter esperança num futuro. Prende-se a épocas, a pessoas, a objetos que nunca mais serão os mesmo, mas que em sua fantasia nada muda, tudo se mantém. Ilusão. Que dizer daquele que esqueceu que o passado já passou e não moverá mais moinhos.

Tua tinta exprime pensamentos, sensações e sentimentos, que viajam dos mais longínquos recôncavos da alma humana. Derepente vem e pousam sobre uma folha de papel em branco ou pautado. Dali começam a brotar e preencher linhas que contam histórias tristes e alegres, de conquistas e decepções. É o homem escrevendo sua história. É talvez Deus com saudade de criar. Se tens como certo, não foste tu que disseste nem escolheste, escolheram e disseram por ti. Que sorte a tua não teres responsabilidade pelo que fazes? Ou azar. Não te esqueças do livre arbítrio, quem paga essa conta és tu.

Odair Comin

Psicólogo e Escritor

Autor do livro: Filoterapia – Conhece-te a ti mesmo

2 comentários:

Bruno Arita disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Estou passando aqui para informar que mudei de endereço e pedindo humildemente para passar em meu blog para adicionar o novo banner. O seu já esta la. O endereço é
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um abraço